Skip to article frontmatterSkip to article content
Fundamentos

Relação entre transformações lineares e matrizes

Notações utilizadas:

Tendo estudado transformações lineares e as propriedades fundamentais de matrizes, veremos agora como estas estão intrinsecamente relacionadas, de maneira que toda matriz está associada a uma transformação linear (e vice-versa).

Princípios

Vimos que todo espaço vetorial possui bases que o geram, logo, quando discutimos uma transformação linear podemos pensar em relação a ela considerando bases específicas dos espaços envolvidos. Essa ideia é o cerne da relação entre transformações lineares e matrizes.

Assim, fixadas as bases dos espaços vetoriais envolvidos, toda transformação linear entre esses espaços está relacionada univocamente a uma matriz, o que decorre da unicidade das coordenadas em uma base ordenada (mas note que uma mesma transformação pode ter matrizes diferentes, mas de mesma dimensão, em relação a bases diferentes). Logo, conseguimos “encapsular” uma transformação linear em uma matriz, de modo que somente com suas entradas e conhecendo os espaços vetoriais e bases em contexto podemos determinar de qual transformação se trata. Isso é extremamente interessante e poderoso, principalmente do ponto de vista computacional (veremos adiante como isso nos permite determinar a imagem de um vetor utilizando a matriz associada à transformação), conseguimos resumir qualquer transformação linear em um conjunto de números.

Mas e o oposto? Dada uma matriz qualquer, como interpretá-la como uma transformação linear? Com base na Definition 1, devemos determinar quais os espaços vetoriais e as respectivas bases envolvidas. Uma escolha natural seria considerarmos, para uma matriz de dimensão m×n{} m\times n {}, os espaços vetoriais Rm\mathbb{R}^{m} e Rn\mathbb{R}^{n}, com suas respectivas bases canônicas. Dessa forma, a matriz estará associada univocamente a uma transformação linear T:RnRmT:\mathbb{R}^{n}\to \mathbb{R}^{m} em relação às bases canônicas. Essa escolha facilita muitos aspectos (pois são espaços vetoriais e bases simples de lidarmos) e sabemos do isomorfismo que existe entre qualquer espaço vetorial de dimensão nn e o Rn\mathbb{R}^{n}, então a transformação associada é “equivalente” para quaisquer espaços de dimensões compatíveis com a matriz.

Portanto, temos a seguinte definição:

Releitura das propriedades matriciais

Agora, com a ótica de transformações lineares, podemos interpretar as propriedades de matrizes.

Essa terceira propriedade esclarece o porquê do produto matricial ser definido da forma que é. Isso pode ser verificado algebricamente, considerando transformações (cuja composição é válida) e bases fixas, mas é melhor visualizado pensando nas colunas das matrizes como vetores (na verdade, como coordenadas de um vetor em uma base). Vetores na forma matricial (isto é, matrizes n×1n \times 1) são chamados de vetores coluna.

Perceba como essa interpretação também oferece uma nova maneira de determinar a transformação linear associada à uma matriz AA de dimensão m×n{} m\times n {}, basta fazermos o produto A[x1x2xn]A\cdot \begin{bmatrix}x_{1}\\x_{2}\\ \vdots \\ x_{n} \end{bmatrix}.

Além disso, como é esperado, I=[I]α\mathbf{I}=[I]_{\alpha}. Introduziremos agora uma importante ferramenta relacionada com a matriz do operador identidade:

O nome vem simplesmente do fato que tal matriz permite determinar as coordenadas na base β\beta de qualquer vetor em VV, a partir das suas coordenadas em α\alpha. Ou seja, digamos que (v)α=(x1,x2,,xn)(v)_{\alpha}=(x_{1},x_{2},\dots,x_{n}), então as coordenadas de (v)β(v)_{\beta} são dadas pelas entradas do vetor coluna resultante do produto [I]βα[x1x2xn][I]^{\alpha}_{\beta}\cdot \begin{bmatrix} x_{1} \\ x_{2} \\ \vdots \\ x_{n} \end{bmatrix}.

E claro que podemos também fazer o produto matricial entre uma matriz compatível AA e [I]βα{} [I]^{\alpha}_{\beta} {}, de maneira que se A=[T]γβA=[T]^{\beta}_{\gamma}, a matriz resultante é [T]γα[T]^{\alpha}_{\gamma}. Logo, podemos reescrever a matriz de qualquer transformação em bases diferentes, esse fato cumpre um papel importante no Teorema Espectral para matrizes.

Por fim, a transposta de uma matriz também possui um contexto de transformação linear, que é discutido no tópico de Adjunta.