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Fundamentos

Propriedades de espaços vetoriais de dimensão finita

Os conceitos discutidos no tópico anterior são válidos para espaços vetoriais arbitrários. Voltaremos nossa atenção de agora em diante para espaços vetoriais de dimensão finita (o significado de dimensão ficará claro futuramente). Tenha em mente que sempre que nos referirmos a uma lista de vetores v1,,vnv_{1},\dots,v_{n} teremos nNn\in \mathbb{N}, ou seja, a lista é finita.

Combinações lineares e espaço gerado

Quando span(v1,,vn)=V\text{span}(v_{1},\dots,v_{n})=V, dizemos que v1,,vnv_{1},\dots,v_{n} geram VV. Logo, dizemos que um espaço vetorial tem dimensão finita quando uma quantidade finita de seus elementos o gera.

Independência linear

De maneira similar à definição de soma direta para um conjunto de subespaços, definimos o conceito de independência linear para uma lista de vetores.

Através da definição, verifica-se sem muita dificuldade que toda lista de vetores que está contida em uma lista linearmente independente também será linearmente independente.

Naturalmente, uma lista de vetores v1,,vnVv_{1},\dots,v_{n} \in V é linearmente dependente quando não é linearmente independente. Logo, existe pelo menos um αi\alpha_{i} não nulo de modo que 0=α1v1++αnvn0=\alpha_{1}v_{1}+\dots+\alpha_{n}v_{n}.

Um exemplo típico de vetores linearmente dependentes são múltiplos (quando um vetor é o outro multiplicado por um escalar).

De maneira geral, sempre que tivermos o vetor nulo pertencente à lista de vetores considerado eles serão linearmente dependentes: se considerarmos 0=α00+α1v1++αnvn0=\alpha_{0}0+\alpha_{1}v_{1}+\dots+\alpha_{n}v_{n}, dados valores de α1,,αn\alpha_{1},\dots,\alpha_{n} que satisfaçam α1v1++αnvn=0\alpha_{1}v_{1}+\dots+\alpha_{n}v_{n}=0 (mesmo que sejam todos nulos), então qualquer α0R\alpha_{0} \in \mathbb{R} irá satisfazer a igualdade. Logo, mesmo que v1,,vnv_{1},\dots,v_{n} sejam linearmente independentes, ao adicionarmos o vetor nulo a lista de vetores se torna linearmente dependente.

Esse resultado nos diz que é possível reduzir uma lista de vetores linearmente dependentes em uma lista linearmente independente, removendo vetores que são combinação linear de outros vetores da lista (no caso da lista conter somente o vetor nulo, a lista resultante desse processo é vazia, assumida como linearmente independente por convenção).

A partir desses resultados também obtemos que qualquer subespaço de um espaço de dimensão finita terá, da mesma forma, dimensão finita. Como é de se esperar.

Bases

A união entre os conceitos de espaço gerado e independência linear origina a ideia de base, central na Álgebra Linear.

Veja que multiplicar os vetores da base canônica por escalares quaisquer não altera as duas propriedades que fazem deles uma base. Logo, existem infinitas bases para Rn\mathbb{R}^{n}. Existem também bases formadas por vetores que não são somente múltiplos dos vetores da base canônica, como ilustra o próximo exemplo.

Esse exemplo nos dá um indício de que bases são maximais em relação à quantidade de vetores, pois a inclusão de um novo vetor à base do Example 5 fez com que uma das condições necessárias em Definition 4 falhasse. De fato isso é verdadeiro, como será visto posteriormente.

Antes de partirmos para as proposições e teoremas, um último exemplo ilustrando uma base de um espaço vetorial diferente do Rn\mathbb{R}^{n}:

Esse teorema nos garante que todo espaço vetorial de dimensão finita possui uma base, uma vez que possui uma lista finita de vetores que o gera e então podemos reduzi-la em uma base.

Agora, mostramos o processo contrário ao do teorema anterior, que toda lista linearmente independente pode ser estendida em uma base, adicionando novos vetores.

Um resultado similar, sobre subespaços e somas diretas, pode ser extraído a partir desse teorema: Dado um subespaço WW de VV, existe outro subespaço UU de VV, de modo que V=WUV=W\oplus U. A ideia é considerar uma base de WW (que existe, pelo Theorem 2) e completá-la em uma base de VV usando o Theorem 3, os vetores complementares obtidos serão a base do subespaço UU. É fácil verificar que isso nos dará V=WUV=W\oplus U. Note que se W=VW=V, então U={0}U=\{ 0 \}.

Por fim, um resultado que é naturalmente esperado e é importante para a definição de dimensão:

Dimensão

A definição de dimensão para um espaço de “dimensão finita” parece circular, mas lembre-se que um espaço possui dimensão finita se pode ser gerado por uma lista finita de vetores, e essa definição não depende do conceito de dimensão definido agora. A necessidade de especificar que o espaço tenha dimensão finita se dá, pois, se o espaço possuir dimensão infinita, então qualquer uma de suas bases conterá infinitos elementos, logo, o conceito de “comprimento” não será mais limitado a um número real, fugindo do escopo elementar da Álgebra Linear.

Como já mencionado, todo subespaço de um espaço de dimensão finita terá dimensão finita. Então, naturalmente, temos o seguinte resultado:

Footnotes
  1. Alternativamente, encontra-se a notação [{v1,,vn}][\{ v_{1},\dots,v_{n} \}].