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Aplicações

Teorema Espectral

Máximos e mínimos locais de funções de duas variáveis

A modelagem matemática de fenômenos físicos (em áreas como Mecânica Clássica, Termodinâmica, Óptica, etc.), de processos da Engenharia e Economia - entre outras atividades de grande relevância para o empreendimento humano - naturalmente recai sobre o estudo de funções de múltiplas variáveis, uma vez que estes lidam com intricados fatores que interagem entre si e dependem uns dos outros. Em particular, funções de duas variáveis aparecem com bastante frequência nos exemplos citados.

Considere, por exemplo, a modelagem do lucro de uma empresa dado em função do preço dos seus dois principais produtos, L(p1,p2)L(p_{1},p_{2}). Encontrar os valores de p1p_{1} e p2p_{2} que maximizariam o lucro é um problema clássico do Cálculo Diferencial e Integral, que envolve determinar os chamados pontos de máximo e mínimo locais da função L(p1,p2)L(p_{1},p_{2}).

Munidos das ferramentas do Cálculo, o Teorema Espectral nos permite uma análise do problema sob a ótica da Álgebra Linear, o que por muitas vezes oferece uma solução mais prática.

A ideia central é analisarmos as propriedades da matriz Hessiana, uma das principais ferramentas do Cálculo Vetorial, que é constituída das derivadas parciais de segunda ordem da função, que naturalmente nos fornecem informações sobre os pontos de máximo e mínimo, chamados pontos críticos.

Para o caso em que as derivadas de segunda ordem são contínuas, tem-se que 2fxy=2fyx\frac{\partial^{2}f}{\partial x\partial y}=\frac{\partial^{2}f}{\partial y\partial x}. Logo, a matriz Hessiana é simétrica e sabemos, pelo Teorema Espectral, que possuirá autovalores reais. Em suma, isto nos permite classificar os pontos críticos com base nos seus autovalores.

Similarmente à estratégia usual do Cálculo, inicialmente devemos encontrar pontos que são candidatos a máximos, mínimos ou pontos de sela. Tais pontos satisfazem o seguinte sistema:

f(x,y)=0    {fx(x,y)=0fy(x,y)=0\nabla f(x,y)=0 \implies \begin{cases} f_{x}(x,y)=0 \\ f_{y}(x,y)=0 \end{cases}

onde f(x,y)\nabla f(x,y) é o gradiente de ff, outro elemento protagonista do Cálculo Vetorial, que basicamente consiste do vetor cujas coordenadas são as derivadas de ff em cada variável respectiva.

A partir daí, calculamos a matriz Hessiana para os pontos encontrados e encontramos seus autovalores. A natureza do ponto crítico é então determinada pelos sinais dos seus autovalores, λ1\lambda_{1} e λ2\lambda_{2}:

Para o caso em que algum autovalor for zero, o teste é inconclusivo. É necessária análise de derivadas de ordem superior.

Assim, a forma diagonal da matriz Hessiana nos revela a curvatura da função nas direções dos autovetores. Por exemplo, se λ1>0\lambda_{1}>0 e λ2>0\lambda_{2}>0 a função tem concavidade para cima em todas as direções.

Tomemos um exemplo prático: Considere f(x,y)=x2+2y2f(x,y)=x^{2}+2y^{2}. Utilizando (2) encontramos o ponto crítico (0,0)(0,0), cuja Hessiana é dada por H(0,0)=(2004)H(0,0)=\begin{pmatrix}2 & 0\\ 0 & 4\end{pmatrix}, já diagonal. Encontramos que seus autovalores são λ1=2>0\lambda_{1}=2>0 e λ2=4>0\lambda_{2}=4>0, resultando na conclusão que (0,0)(0,0) é um mínimo local.

Gráfico 3D da função f(x,y)=x^{2}+2y^{2}

Figure 1:Gráfico 3D da função f(x,y)=x2+2y2f(x,y)=x^{2}+2y^{2}

Trazendo para um cenário análogo ao exemplo da função de lucro discutida no início, se tal ff corresponde a um custo dependente dos parâmetros (x,y)(x,y), sabemos que tomando-os (0,0)(0,0) estaríamos minimizando o custo.